Não tenho uma opinião definitiva sobre o novo acordo ortográfico, mas confesso que há algumas mudanças que me irritam, por exemplo a palavra óptimo ao perder o p parece que perde pujança e deixa de ser óptimo para ser apenas ótimo!
No meu quarto ano de faculdade, numa cadeira denominada História da Língua Inglesa, estudámos e analisámos as diferenças existentes entre o Inglês Britânico e o Inglês Americano, mas mais interessante foi perceber por que razão ocorreram. Os Estados Unidos da América, enquanto nação, respiravam prosperidade, sucesso, mas faltava-lhes uma identidade linguística, um idioma que fosse só seu e que representasse o país, não uma língua vivendo na sombra do antigo colonizador. Assim, não podendo inventar uma nova língua, reinventaram-na, introduziram-lhe algumas alterações, tornaram-na única, sua. Foi desta forma que colour perdeu o o porque não se pronunciava, recognise passou a escrever-se com z em vez de s, só para dar breves exemplos.
Nós, pelo contrário, queremos deixar de lado o que torna a nossa variante do Português única, em nome de uma uniformização das várias variantes. Será que até aqui os falantes do português de diferentes origens não se entendiam? Não me parece.
Parece-me, pelo contrário, muito mais interessante e enriquecedor haver várias formas de denominar a mesma realidade ou existirem realidades para nós desconhecidas que encontram denominação noutra variedade da nossa língua.
A título ilustrativo de que os falantes do português conseguem entender-se independentemente da variedade utilizada, segue-se uma reprodução de um email que recebi hoje, que além de mostrar quão rica é a língua poruguesa, é um elogio à mesma e não está escrito em português de Portugal.
O que falta no texto abaixo?
NÃO OLHE A RESPOSTA.
VEJA SE VOCÊ DESCOBRE O QUE ESTÁ FALTANDO NO TEXTO....
A resposta está no final.
Sem nenhum tropeço, posso escrever o que quiser sem ele, pois rico é o português e fértil em recursos diversos, tudo permitindo, mesmo o que de início, e somente de início, se pode ter como impossível. Pode-se dizer tudo, com sentido completo, como se isto fosse mero ovo de Colombo.
Desde que se tente sem se pôr inibido, pode muito bem o leitor empreender este belo exercício, dentro do nosso fecundo e peregrino dizer português, puríssimo instrumento dos nossos melhores escritores e mestres do verso, instrumento que nos legou monumentos dignos de eterno e honroso reconhecimento
Trechos difíceis se resolvem com sinônimos. Observe-se bem: é certo que, em se querendo, esgrime-se sem limites com este divertimento instrutivo. Brinque-se mesmo com tudo. É um belíssimo esporte do intelecto, pois escrevemos o que quisermos sem o "E" ou sem o "I" ou sem o "O" e, conforme meu exclusivo desejo, escolherei outro, discorrendo livremente, por exemplo, sem o "P", "R" ou "F", ou o que quiser escolher. Podemos, em estilo corrente, repetir sempre um som ou mesmo escrever sem verbos.
Com o concurso de termos escolhidos, isso pode ir longe, escrevendo-se todo um discurso, um conto ou um livro inteiro sobre o que o leitor melhor preferir. Porém mesmo sem o uso pernóstico dos termos difíceis, muito e muito se prossegue do mesmo modo, discorrendo sobre o objeto escolhido, sem impedimentos. Deploro sempre ver moços deste século inconscientemente esquecerem e oprimirem nosso português, hoje culto e belo, querendo substituí-lo pelo inglês. Por quê?
Cultivemos nosso polifônico e fecundo verbo, doce e melodioso, porém incisivo e forte, messe de luminosos estilos, voz de muitos povos, escrínio de belos versos e de imenso porte, ninho de cisnes e de condores.
Honremos o que é nosso, ó moços estudiosos, escritores e professores. Honremos o digníssimo modo de dizer que nos legou um povo humilde, porém viril e cheio de sentimentos estéticos, pugilo de heróis e de nobres descobridores de mundos novos.
Descobriu?
O texto não tem letra A.
A propósito destes jogos de linguagem, há um livro que contém imensas sugestões para encarar a escrita de forma divertida e construtiva. Destina-se a todos, sem limite de idade, apenas é necessário que consiga escrever. Popõe-se actividades muito diferentes, que vão desde escrever um texto sem uma determinada letra (como o texto em cima), até recontar uma história tradicional de uma forma aborrecida ou com suspense, por exemplo. O importante é que ao ultrapassar os obstáculos apresentados em cada exercício, cada escritor vai ter de recorrer a capacidades que não domina tão bem, mas vai fazê-lo de forma divertida e útil. O resultado é começar a escrever com mais facilidade e mais ideias.
Comprei este livro porque a professora que há em mim adora estes temas. Revelou-se uma boa compra, pois não só é muito interessante, como também algumas das actividades propostas têm ajudado a C a sair da sua zona de conforto (escrever sobre as brincadeiras com a irmã ou a cadela) e ir um pouco mais além. Claro que o domínio da escrita por parte da minha filha mais velha ainda é muito ténue, mas à medida que for crescendo assim poderão variar as actividades realizadas.
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