quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Perspectivas

Foi necessário atravessar meio mundo e aterrar na América Latina para perspectivar a forma como falamos de nós e da nossa cultura.
Por um lado, como somos portugueses, e por isso latinos, há muitos aspectos culturais comuns que nos ajudam a sentir em casa. Por exemplo, as pessoas são afáveis, sorridentes, alegres, afectuosas e tocar nos outros faz parte do quotidiano. Nos três anos em que fui diariamente buscar a C à escola em Basileia nunca me lembro de ter recebido um beijo de qualquer outra mãe; aqui todos os dias há trocas de beijos, saudações efusivas. Estas são características que não sentíamos na Suiça, a não ser que estivessemos entre portugueses. Assim, a palavra latina passou a fazer parte da forma como me defino.
Por outro lado, há aspectos que nos distanciam e confesso, nos desesperam: comprometem-se com algo e raramente cumprem, é necessário telefonar vezes sem conta para que façam o favor de levarem a cabo aquilo a que se tinham proposto; conduzem que nem uns loucos, tudo é possível, ultrapassam pela direita, pela esquerda, inventam uma terceira faixa onde supostamente existem duas, não compreendem o funcionamento das rotundas, é basicamente a lei do carro maior e do condutor mais destemido que impera nas estradas; muitas crianças vão sentadas no banco da frente ao colo da mãe e também existe a versão "tudo ao molho e fé em Deus" na parte de trás das pick ups ou carrinhas de caixa aberta. Nestas situações sinto-me europeia.

Latina e europeia eram duas palavras que nunca me lembro de ter utilizado para me definir quando vivia em Portugal ou mesmo na Suiça. Curiosa a forma como as perspectivas se alteram!

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